terça-feira, 29 de outubro de 2019

À conversa com ex-jogador: Vítor Pereira


Hoje trazemos à antena o primeiro guarda-redes nesta série de entrevistas. Trata-se nada mais, nada menos que Vitor Pereira que vestiu a camisola Azul Amora há cerca de 25 anos. Passou na sua formação pela Amora FC e ainda pelo Sporting CP, mas o Amora tem um lugar especial no seu coração. 

Vamos saber mais um pouco.


- Fizeste a tua formação no Sporting. Como era a formação de um grande clube no final dos anos 80?
Curiosamente foi no Amora FC que comecei a jogar futebol federado, tinha 10 anos e era o primeiro ano de iniciado . Nessa equipa havia muitos e bons jogadores que mais tarde iriam ser profissionais de futebol, como por exemplo: Zito, Paulo Sérgio, Raul Oliveira, Sérgio Camacho, Luís Miguel, Wilson - já falecido - ou o Joãozinho. De certeza que me vou esquecer de alguém. Todos bons jogadores e depois fui para o Sporting CP e as diferenças eram enormes.
Na Amora treinávamos onde podíamos e em Alvalade tínhamos quase tudo. As diferenças entre a formação do Sporting da altura e a de hoje, são muito grandes, nomeadamente a nível das infraestruturas e dos meios humanos ao nosso dispor. Eram outros tempos.
Foi uma felicidade poder ter sido treinado por homens como: Aurélio Pereira, Carlos Pereira, João Barnabé, Marinho, César Nascimento, Osvaldo Silva, Mister Carvalho; e ainda de ter jogado com: Luís Figo, Paulo Pilar, João Pinto, Paulo Torres, Abel Xavier, Chiquinho, Alexandre Nunes e muitos mais...Foram tempos de excelência e que me deixaram grato para o resto da vida.

- Como foi vir para o Seixal FC e logo depois voltar ao Amora FC? Na altura a rivalidade era enorme...
A rivalidade era grande mas era saudável e os derbies eram vividos de maneira intensa. Curiosamente o meu primeiro jogo como Sénior foi logo na abertura do campeonato da antiga segunda divisão e logo um derby Amora-Seixal que ficou 0-0. A mudança para a Amora foi por convite do Mister Jorge Jesus e fui sempre bem tratado e aceite pelos 2 clubes. A rivalidade era vivida de modo saudável.

- Qual a melhor recordação que tens do tempo que jogaste pelo Amora FC? E a pior?
Tantas recordações boas, como por exemplo: o ano da da subida à liga de Honra, o ser campeão da Zona Sul, o ser a defesa menos batida de todos os campeonatos e estarmos 927 minutos sem sofrer golos, a Medideira cheia, as gentes felizes com os nossos êxitos. Foram anos bons que ficaram para a vida. Os maus não existiram...não havia dinheiro, mas a rapaziada era feliz com pouco.

- Tens alguma história engraçada que se possa contar, que meta o Amora Fc ou o balneário?
Há muitas histórias, foram 3 épocas a partilhar balneário com grandes “cromos” , os maiores eram o Jorge Paixão e o Osmar Bueno. Tínhamos de estar sempre atentos, pois estavam sempre a armar ratoeiras...nessa altura o balneário estava cheio 2 horas antes do treino, porque a rapaziada ia para lá se divertir. O Mister Jesus contribuía, sem saber, para algumas das nossas histórias...aprendi muito nesses anos, mas muitas das histórias não as posso contar aqui.

- Os derbys com o Seixal eram sempre intensos. Como eram vividos os dias anteriores e até o jogo, seja na Medideira ou no Bravo? Como foi jogar no Seixal? Quais as maiores diferenças entre o Amora FC e o Seixal FC?
Como eu cresci, e vivi, até adulto na casa dos meus pais na Cruz de Pau, acabava por viver esses dias também pelo lado do adepto, com amigos e vizinhos a meterem sempre aquela pressão para ganharem, pois não queriam ser gozados pelos rivais. 
O Seixal era na altura um clube já sem muitos apoios financeiros e em queda, enquanto o Amora tentava voltar aos tempos da primeira divisão no princípio dos anos 80. Nos primeiros anos da década de 90 era um clube que tinha ideias e vitalidade. Depois vieram os tempos difíceis e todos os problemas que todos conhecemos, mas até então era um clube que dava alegrias aos sócios.

- Lembraste da tua melhor defesa? Como foi? E do teu melhor jogo? Ou o jogo que mais recordas com saudade?
As minhas lembranças são muitas. Fiz muitas defesas - também dei alguns frangos - mas recordo-me das tardes de Domingo na Medideira. Fui adepto enquanto criança e adolescente, e jogador enquanto adulto. Vibrei e sofri dos dois lados. Sabia o que era estar na bancada a torcer e isso ajudou-me a compreender as palmas e os assobios, porque eu já tinha sentido os mesmos. Naquele tempo a bancada enchia e a equipa sentia-se apoiada. Era muito difícil passar na Medideira.

- Como vês o Amora FC atualmente?
To-Sá e Vitor Pereira

O Amora FC Resistiu.
Foi uma pena acompanhar a queda do clube da minha terra, mas de facto foram tempos muito difíceis e os maus caminhos para onde o clube foi direcionado levaram a uma queda enorme e rápida.
Mas o Amora FC Resistiu!!! 
O Amora FC perdeu muita coisa,  mas nunca perdeu os seus adeptos e isso fez a diferença naquilo que é hoje o clube. Gentes da Amora, muitos deles meus colegas e amigos de escola, agarraram o clube e com seriedade e muito trabalho, reergueram o Amora FC e devolveram a dignidade que o clube e as gentes da Amora merecem. 
Espero que no futuro a linha que se seguiu até hoje continue a ser seguida e que o clube continue a crescer de forma sustentada e de forma a que nunca mais se veja em situações como as vividas anteriormente.

- O melhor jogador com quem jogaste? E o melhor treinador que tiveste?
Eu tive o privilégio de jogar com bons jogadores, inclusive um dos Melhores do Mundo, como foi o Luís Figo.
No Amora FC trabalhei com o Jorge Jesus, mas não era isso gostaria de realçar. 
No fim de tudo o que fica são as amizades, e no Amora fiz algumas para a vida. O Jorge Paixão foi meu ídolo em criança, meu colega como jogador, foi meu treinador (um dos melhores que tive) e depois fiz parte da equipa técnica dele como treinador de guarda-redes e isso foi proporcionado pelo Amora FC.
São amizades para a vida, como também o Tó-Sá, Quim-Zé, Sérgio Camacho, Osmar Bueno, Helinho, Hugo Varela, Rui Maside, Justino, Jorge Silva, Belchior...tantos e tantos. 
Na Amora vi jogar Caio Cambalhota, joguei com o Osmar Bueno, o Alfredo, o Manuel...mas o que mais gostava de ver era o Alberto Hernandez...um craque!!!

- O que faz o Vitor Pereira atualmente?
Quando deixei de jogar, em 2009, comecei a treinar guarda-redes. Já treinei em países como China, Qatar, Israel, treinei na liga NOS (nas equipas técnicas do Mister Lito Vidigal) e actualmente estou no Bordéus, em França, onde estou a coordenar o departamento de formação de guarda-redes da academia e treino a equipa B em cooperação com o meu colega da equipa principal e também ele ex-guarda-redes do Amora FC, o Paulo Grilo.

- Uma palavra para os Amorenses?
Um abraço a todos os que torcem pelo Amora FC, as gentes da Amora e a todos os meus amigos da terra que me viu nascer e onde cresci e me fiz Homem. 
Vamos embora Amora!!!

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